" TRAGO DENTRO DE MIM "... GRUPO CASULO, JARDINS - SP


APÓS LER O LIVRO " DEPOIS DE VOCÊ " - JOJO MOYES, fui fazer uma busca na web sobre grupos que debatem o luto aqui no Brasil, e encontrei o Casulo!
Se eu não me engano, isso foi entre fevereiro e março, e os finais de semana que fui convidada foi em abril, e todo final de semana eu já tinha compromisso - passagem ou ingresso comprado, não podia adiar ou cancelar, e francamente havia me esquecido, em meio à tantos compromissos diários e semanais que me ocupo ultimamente...
Recebi na última semana o email da Ana, me convidando para o encontro no último sábado, e aceitei de bom grado...
Como um assalto, as consequências de fazer o BO, e bloquear cartões, e emitir novos documentos, lidar com o luto, onde o fato em si é o pior, tem também suas constrangedoras consequências...
Num grupo formado por dezoito pessoas e suas dores, os assuntos de maior destaque foram:
1 - CONTINUAR A JORNADA, SENDO HOJE OUTRA PESSOA;
2 - CULPA;
3 - E O TEMPO DO LUTO?
O bom, mesmo com o pior motivo para um encontro entre pessoas, assim como o momento do velório e enterro, é que você percebe que não é sozinho em suas angústias... Ali tinha de gente que perdeu bebês até gente que perdeu seus pais... Doenças, assassinatos, acidentes, e no fim, os motivos não amenizam as dores! É tão somente o fato de não poder mais ver o tão adorado sorriso e os gestos, de não poder mais compartilhar a presença, que verdadeiramente machuca!
Pai, mãe, irmão, filho, amigo, vizinho querido, cunhado, professor, funcionário, patrão, e outros títulos importantes na hierarquia social, mas no peito, a consideração e carinho por aquele que nos deixou tem o mesmo peso...
Como continuar a caminhada por aqui se não somos mais os mesmos? No meu caso, a minha prova disso foi em janeiro...Eu precisava ver o mar, eu queria porque queria, mas não queria ir sozinha... Como se tivessem me tirado a coragem, o porto seguro, o alicerce, as pernas, eu estava com medo de ir sozinha! Entenda bem, não era medo de algo ruim me acontecer, mas, eu voltei aos três anos de idade, frágil e completamente dependente da segurança e responsabilidade de meus pais! Decidi ir pra Ubatuba, podia ser Santos, mais perto, mas eu queria Ubatuba e ponto final, e chamando três amigas, uma aceitou e me acompanhou... Me viu chorar copiosamente diante do quadro que meu irmão pintou, e em silêncio apenas respeitando meu momento, esperou para que eu me acalmasse e a gente fosse aproveitar o dia! Eu pensava nele na estrada, na praia, quando via os jovens pelas ruas, quando ia dormir, quando acordava... Em fevereiro fui pra Manaus, absurdamente mais longe, mas já estava mais " Michele ", e no avião chorei, pensando que ele se foi sem nunca ter voado... No chuveiro do hostel, eu imaginava nossa conversa à respeito do maravilhoso Teatro Amazonas, das águas negras do Rio Negro, e tantas outras atrações daquele lugar... Em março, depois da tatuagem, fui no show do Iron, e via o Eddie no palco, e lá estava o Edu... Por instantes, eu esquecia o show e voltava ao pesadelo que vivi em dezembro, a UTI, o medo de cada ligação, o estado físico em que ele se encontrava... Não é a perda de alguém do seu sangue que te transforma, mas de alguém que você ama!!! É como perder um braço ou uma perna, você vai ter que passar a viver e desacostumar com aquilo que era tão importante pra você! É um constante sonhar com ele, acordar, e não poder fazer uma ligação... Pra sempre, pisar na Avenida Paulista vai me lembrar ele... Lego, Senhor dos Anéis, Harry Potter, Kelly Clarkson, arroz integral, as árvores... Duas coisas que ele me pediu muito: Que eu pisasse na Ri-Happy brinquedos do Shopping Cidade São Paulo, lugar onde pisei a última vez para cancelar as passagens para Manaus, em dezembro... Conhecer Valença - RJ, que ele tanto encantara-se... E vou fazer esse ano!
A culpa é uma lista... E todas as pessoas do grupo se sentem culpadas por alguns motivos... " Ufa, isso é normal! "... Porque assinei a autorização da cirurgia? Porque eu não estava lá quando fulano pediu? Porque disse isso? Porque não disse o que deveria? Porque não pedi perdão? Porque não disse que amava??? Enfim... Cada um carrega sua eterna culpa, talvez numa tentativa de se sentir responsável pela partida da pessoa amada, mas isso não ajuda em nada... Meu irmão sabia que eu ia pra casa da mãe no dia 25 de dezembro, ele não sabia que eu ia antes, de surpresa... E ele aguardava ansioso pra me ver... Desde que ficou extremamente debilitado, eu me preocupava com o fato dele achar que eu não me importava com ele, pois não fui na minha mãe ver ele... Não fui por ser espontânea demais, e mostrar no meu semblante o quanto sua aparência me assustava, e ELE ficar abalado com isso, e ISSO machucá-lo! Eu sabia que vê-lo doente ia acabar comigo, mas se soubesse que ele contava os dias de vida, porque não me torturar um pouco??? E se a gente tivesse batido um papo na mesa ou na cama, isso não melhoraria o estado emocional em que se encontrava??? A gente fatalmente pensa nessas coisas como se esses ANTES pudesse prevenir a partida da pessoa... Bom, a minha presença preveniu, e enquanto eu pisei naquele hospital ele estava vivo! A menina ao meu lado ontem, falou que o pai dela estava morrendo na UTI, e que ela recomendou enquanto ele podia ouvir, que ele fosse em paz, que ela ia continuar aqui numa boa... NÃO - EU NÃO CONSEGUIRIA ME DESPEDIR ASSIM DO MEU IRMÃO!!! Não devo amá-lo tanto assim, pois dizer àdeus é de um amor além das fronteiras do físico, e que eu ainda não tenho! Como assim a pessoa decide ir embora e tudo bem? Desculpa, mas devo ser de uma alma muito atrasada, pois não consigo encarar de forma madura uma situação dessa... Eu tenho consciência do sofrimento físico em que ele se encontrava, mas eu tinha plena convicção da melhora, tamanha minha vontade de vê-lo vivo, BEM! Hoje, ainda a pouco, SIM, estava eu conversando com ele pela primeira vez depois de tudo, e conversei como fazia ao telefone, instruindo para que seguisse sua nova jornada, com amor e bondade, principalmente por si mesmo, que foi a pessoa que ele mais largou aqui na Terra... Enfim, falei muitas coisas... Mas, ele JÁ ter ido é mais fácil lidar com esse " tchau ", mas antes??? Não, eu ainda não evoluí pra isso...
E quanto ao tempo, quem decide até quando sofrer por isso? NO GERAL, todos ali passam pela situação da exigência da sociedade quanto à andar sorrindo e seguir como se nada tivesse acontecido... Logo, o desrespeito é com tudo mundo, achei que era só comigo... " Ah Michele, mas eu também perdi irmão, eu também perdi pai, mãe, cachorro, marido ", mas cada um tem sua maneira e seu tempo de assimilar a perda e tocar pra frente! Tinha gente ali que perdeu há um mês, e gente que já faz aaaanos... Tem gente que vai no cemitério toda semana e gente como eu, que não tem coragem... Cada um sabe bem onde o calo aperta e olhar: " Eduardo Santos de Almeida " numa lápide é um meteoro de realidade... Ele não está de fato no cemitério, mas não está mais aqui, não é mais acessível! Passamos uma noite " de boa " no velório, até começar a amanhecer e encher de gente na sala... Minha mãe passou mal na hora da oração do padre - REALIDADE! No dia da missa de sétimo dia, o padre anunciou o nome dele e minha mãe ficou absolutamente estranha - REALIDADE! O baque com a realidade vai surgir sempre, e o cemitério nada mais é do que o contato com a terrível realidade... Passar na frente do hospital Sapopemba? Eu vou querer entrar na UTI pra ver ele...

Isso, INEXORAVELMENTE, vai passar... Fato é que, em comum, todos chegamos à incrível conclusão de que, além de não sermos mais os mesmos, certas coisas em nossas vidas passaram a ser mais importantes, e tantas outras não...
Meu irmão me estimulou a estar cada vez mais ao meu lado, a não deixar que abusem de mim, a seguir meu coração e minha alma, a viver com toda dignidade possível! Pra que quando acontecer comigo, eu olhe pra trás sem desejos de permanecer aqui, mas ansiosa pelo novo caminho... Porque aqui eu vivi tudo o que precisava! Ele na sua forma dorida, me cutucou a estar do meu lado, aconteça o que acontecer, a nunca me largar pois não há nada nem ninguém na Terra que mereça minha vida, e a ver as coisas com mais compaixão, por mais odiosas que pareçam...

E TRAGO TAMBÉM, a certeza de que um dia vou encontrá-lo, e amenizar a dor da ausência num abraço apertado, cheio de lágrimas de longa saudade, cheios, repletos de assuntos da espiritualidade e ETs pra pôr em dia, e eu com fome de saber como foi tudo desde o momento em que decidiu partir - ai que inferno de irmã, rsrs ( Você não me escapa! ) - mas por agora, cada um no seu caminho, vivendo suas essenciais experiências, unidos apenas pelo Amor Eterno!

Música que escrevi pra ele, dias antes dele dar entrada na UTI: " Pra quê falar se você não quer me ouvir? Fugir agora não resolve nada... Mas não vou chorar se você quiser partir, às vezes a distância ajuda, e essa tempestade um dia vai acabar... Só quero te lembrar de quando a gente andava nas estrelas, nas horas lindas que passamos juntos! A gente só queria amar e amar, e hoje eu tenho a certeza: A nossa história não termina agora, pois essa tempestade um dia vai acabar! Quando a chuva passar, quando o tempo abrir abra a janela e veja, eu sou o Sol, eu sou CÉU e mar, sou seu e fim e o meu amor é imensidão... " - Ivete Sangalo
Minha mãe disse que ele leu toda a música, bem como as mensagens de otimismo das meninas do meu serviço, e comentou sobre a foto que imprimi para juntar à tudo: " A Michele adora essa foto "...
Hey irmão, hoje ela é o papel de parede do meu celular...

Comentários

  1. ETERNO...
    ETERNO pq o Amor é etreno.
    ETERNO pq a Vida é eterna.
    ETERNO pq lembramos dele td dia, toda hora...
    ETERNO pq a dor não vai passar...
    ETERNO pq a gnt não aprendeu dizer adeus.
    "Forçamos" - "tentamos"- mas eu mesma não acredito ainda.
    ETERNAMENTE vou me beliscar pra acreditar.

    ResponderExcluir
  2. Eu entro no banheiro do serviço rindo da minha cara, RINDO MESMO, tipo: " Ele morreu "... Inacreditável!
    Um ano atrás estávamos planejando nos juntar em julho pelos aniversários e bagunçar...

    É FODA!

    ResponderExcluir

Postar um comentário