" VOCÊ É O CÉU " - EDUARDO S/A


TALVEZ, COM TANTA MANIFESTAÇÃO DE CARINHO QUE eu exprima, entre eu e meu irmão, faça as pessoas acreditarem que éramos unidos, mas, antes mesmo de tentar vos enganar, eu não me engano!
Esse mural de fotos do meu irmão foi feito por ele mesmo, acho que lá entre os 18/19 anos, e não tem eu aí... Tem ali, recarregando o bilhete único, mas ele me tapou com o braço na foto...
O Instagram dele, que existe no último ano de sua vida, tem fotos com a Cá e a Mileide, tem com as meninas que eram amigas dele, e não tem eu... A única foto que me tem, eu estou lá no fundo, com toda a família...
Se isso dói? Rs, ahhh dói, claro que dói... E nada do que ele não fazia ou não fez por mim diminui meu amor por ele...
Eu também passei por uma cama de hospital... A diferença entre ele e eu é que eu vivi e ele não, que eu não queria voltar, e ele sim, e a vida, claro, sempre faz contra a nossa vontade...
Eu dei entrada no hospital no domingo, a cirurgia era na segunda, e tive alta na quinta feira... Meu irmão sequer me ligou pra saber se eu tinha sobrevivido! Eu lembro que uns dois meses depois, eu liguei pra ele, acho que pra falar de cinema, e ele " ah bixa, você fez uma cirurgia, né?! E aí, você está bem? ", e eu despistei o assunto e continuei falando do que eu liguei para falar...
Nos dias depois do Natal de 2010, eu e a Mileide discutimos na mesa na cozinha, e nada do que ela me falou, que eu nem lembro conseguiu me derrubar, até ela dizer que a Cá e o Edu estavam cagando e andando pra minha existência... Doeu, porque ela disse o que eu sabia!
Quando ele era bebê, eu tinha ciúmes dele com a minha mãe, e achava que era da minha mãe, NÃO, ERA DELE!!! Minha mãe batia nele pra aprender as lições da escola, e eu tinha vontade de subir nela, e ela já sabe disso... Cada tapa que ela dava nele, parecia 20 chineladas em mim...
Bom, daí ele foi crescendo, e eu sempre soube que ele era gay, e ele detestava que " a Michele sabe de tudo, sempre ", então, eu sou arrogante, prepotente, e tantos outros adjetivos que quem está cagando e andando hoje sou eu... Não vou deixar de ser insuportável pra agradar seu ninguém, sorry!
Na adolescência, eu implicava com ele, enchia mesmo o saco, dizendo que ele tinha que pegar as minas, e tinha que usar camisinha, e tinha que pagar as coisas todas, e tinha que ser cavalheiro, e perturbaaaaaava o moleque, eu também era uma criança... Isso foi alimentando nele uma certa repulsa sobre a minha pessoa, eu sei disso... Nós, no geral, preferimos uma companhia que nos alegra, do que alguém que nos enfia o dedo na cara dizendo o que devemos fazer ou não, e hoje eu sei disso, e que cada um leve a vida que quiser, foda-se! Eu passo minha experiência e o que considero como ruim, mas, o meu ruim pode ser o ótimo do outro, então...
Eu sempre trabalhei muito longe, e ele me ajudava quando eu precisasse de alguns favores, eu o recompensava, e ele acabava conhecendo o mundo, me ajudando, e ganhando sempre alguma coisa com isso... Não sei se por segundas intenções ou porque era bondoso por índole, mas me ajudava...
Fato é que, nem de longe ele sentia por mim o que eu sinto por ele... A única vez em toda a vida dele que eu vi que ele fazia questão da minha presença foi do último Natal, que ele queria porque queria me ver dia 25, dia que prometi que iria, mas iria antes, e que ele queria me dar o quadro que ele pintou... Talvez, porque o espírito sabia que era o último presente, o último Natal...
Foi difícil pra mim lutar com a vontade de vê-lo e ajudá-lo, e ao mesmo tempo, olhar pra ele horrível fisicamente e fingir que está tudo ótimo, para que minha reação espontânea não acabasse com ele, e por isso mesmo que não fui vê-lo doente, enquanto estava na minha mãe... Só de ver as fotos, eu me corto inteira de indignação, de como o ser humano é capaz de afundar na lama, na miséria, por merda nenhuma!
Uma semana antes dele ser internado, eu liguei pra minha mãe chorando horrores, dizendo que eu não ia suportar ver ele mal como estava... Elas só diziam que ele estava mais magro que no Halloween, e no Halloween eu já não queria e não tirei fotos com ele, pois o achei horrível, me assustei quando ele pisou em casa, imagine mais magro que aquilo, e não fui vê-lo, só iria no Natal, mas a situação foi diferente... Minha viagem pra Manaus era no dia 26 de Dezembro, de madrugada, e vocês acham que eu iria depois de ver ele??? Rs, nunca! Eu ia ficar péssima, e sei disso porque, fui ver ele no dia 20, no hospital, e trabalhei muito mal na segunda, dia que cancelei a viagem...
Até minha mãe, umas semanas atrás me disse por telefone que eu perseguia ele muito mais do que ela que era mãe! Eu sei disso, e quando eu percebia já o estava sufocando!
Eu ligava sempre, ele nuuuunca me ligava...
Eu acompanhava as postagens no Facebook, ele mal via as minhas, porque não eram do interesse dele... Como bom geminiano que era, sua preocupação era com a aparência, e talvez ele tivesse vergonha de mim por ser escandalosa, favelada, sem escrúpulos, barraqueira, vulgar, e tantas outras coisas que a grande massa também acha... Por várias vezes ele excluiu comentários meus, e eu fiquei um bom tempo sem procurá-lo...
Não adianta alguém ler tudo isso e vir me dizer que meu irmão era louco por mim, porra, os atos dele provaram o contrário! Pra mim, não foi normal ele dizer que " você é o céu ", foi sim, extraordinário! Eu me assustei, aquele cara no leito da UTI não era o Eduardo orgulhoso, com uma pontinha de rancor da irmã Michele, aquele era o espírito falando!!!
O único ser humano que teve o poder de calar a minha boca pra dizer algumas " boas verdades " foi ele, e tudo isso para trazê-lo de volta à vida! Quem me conhece sabe que me calar é imenso sacrifício, requer mesmo um amor e desprendimento do caralho... Oooou, UMA INDIFERENÇA DO CARALHO, que não era o caso do Edu...
Eu falava dele pra todo mundo, e isso não quer dizer que ele era unido à mim, NÃO GENTE, infelizmente não! Talvez, ele me incluísse no " minhas irmãs isso, minhas irmãs aquilo " pra não ficar chato, mas eu sei, que pela ausência dele na minha vida, se fosse o contrário, como eu já disse que passei pela experiência de estar internada, seria o oposto de minhas reações...
2011 foi o pior ano da minha vida ( a morte do meu irmão foi o pior acontecimento, mas 2015 foi um ano maravilhoso pra mim! ), e  não havia nenhum ser humano familiar pra me dizer sequer uma boa palavra! Reconheci em estranhos, generosidade e compaixão que jamais imaginei existir! Pude contar com pessoas que me chocaram pela boa vontade espontânea... Sabe? Até 2012, 2013, eu jurava que isso doía em mim, e de repente, um bichano peludo, de quatro patas e que só sabia miar em tudo o que ia fazer, me esperava contente quando eu chegava do serviço, e me mostrou que eu não sou tão monstro assim, e que eu podia ser amada apesar do que eu sou, de como eu sou!
MEU GATO SALVOU A MINHA VIDA,  e desde que eu o tenho, não tive mais interesse em não mais existir, porque agora eu tenho pelo quê viver! Tem uma criatura que espera por mim todos os dias, e faz questão da minha presença, e não há cartão de crédito sem limites que possa pagar a satisfação sobre isso! Rs, é tãããão bom se sentir amada, independentemente de onde venha, e isso me fez ver que sou útil no mundo! Tudo o que acreditei de ruim que eu era pra minha família evaporou! Hoje eu posso dizer que todo mundo vive muito bem sem mim, MAS QUE EU TAMBÉM vivo muito bem, sem eles... Custou essa conquista, acreditei que eu nunca fosse me curar desse peso, dessa culpa de ter machucado todo mundo, e meu bichano salvou meu coração!
Não fui ver meu irmão no hospital porque eu era irmã dele e era obrigação minha, assim como TODAS as milhares de vezes que dei comida de rabo nele foi por Amor, alimentar esperanças nele a cada dia, era por Amor... Eu larguei meu neném aqui, e graças aos gatos intrusos, ele deve ter passado fome, porque eles comiam a comida dele, e na primeira semana de UTI, meu neném ficou cinco dias sem me ver, depois vim dar comida e passar uma noite com ele, e foi mais quatro dias...
Meu amor pelo meu irmão sempre foi completamente desinteressado, porque sei que dele para mim não viria nada, e se ele não foi hipócrita e fingido, porque eu serei? Ele conseguiu fazer tudo exatamente o contrário do que eu aconselhava, e claro, eu não queria ter razão...
Uma vez, eu disse pra ele que fui mãe dele na vida passada, e ele não admitiu isso! Rs, se ele me amasse, ele adoraria a idéia, concorda? Mas, ele falou que eu estava delirando, louca de pedra, e etc... Até ele tirar as cartas de Tarô dele, e ver que eu estava MAIS UMA VEZ certa... Fui mãe dele, e provavelmente o abandonei, não cuidei como uma mãe, e por isso a certa repulsa dele comigo, tem explicação!
Assim como ele considerava verdadeiramente nossas irmãs como suas irmãs, eu não o via como irmão, mas como filho! " Nem parece que eu coloquei no mundo ", disse isso quando a gente se encontrou na Lins de Vasconcelos para comer esfihas, e ele estava esplendidamente lindo, alto, esguio, com aquele sorriso apaixonante e cachorro, e eu vi meu filho, não meu irmão!
Minha irmã descreveu o estado em que ele estava no hospital, dia 01 de Janeiro, e eu não podia me imaginar ver aquilo e ficar em pé... Roxo, gelado, etc, etc... E aí eu despenquei no telefone... Só faltava o coração parar de bater, um coração teimoso, insistente...
Ele sempre viu uma quengona em mim, uma vez eu pedi pra ele fazer um editorial de fotos minhas, e nem fiz back up delas na época, e ele tirou as fotos dizendo que eu estava muito erótica, com nojo... Não porque ele era homossexual e meu irmão, mas porque quando eu fui mãe dele eu era putona mesmo, e estava mais interessada em dar pra todo mundo do que criá-lo! Rs, tudo pelo sexo, parecidos, não?!
Eu escolhi um gato macho, e sempre preferi as gatas fêmeas pois não são grudentas, mas peguei um macho SÓ pelo nome José Eduardo... Ele é mesmo grudento, às vezes dá até raiva...
Bom, se eu o abandonei no passado, como podia esperar que no presente eu fosse idolatrada? E já que tenho consciência disso, tenho também consciência de que no presente fiz tudo o que estava ao meu alcance, o que podia e o que não devia, perdendo muitos créditos com ele, justamente para ajudá-lo... As amigas eram queridas porque aprovavam toda a merda em que ele se afundava... A irmã Michele era insuportável porque tinha razão!
Ahhh gente, como eu queria minha razão lá na puta que à pariu quando o vi no fundo do poço... COMO EU QUERIA TER ERRADO!


Now.