NA NOITE DE NATAL...



Durante minha infância, mas lá trás mesmo, nos meus primeiros anos de vida, eu só conhecia o Natal via TV... É, até que a TV não foi de todo ruim na minha vida...
E eu via o Papai-Noel nos shoppings, nas casas, entregando presentes, mas jamais imaginava que um dia eu cresceria, e viveria tudo isso, quero dizer, jamais passou na minha cabeça que era um " universo " possível, dentro da minha realidade...
Nunca passei necessidades na infância, a gente tinha pouco, mas nunca faltou...
E desde pequena, sempre fui muito sonhadora, e não pensava " ahhhh, quando eu crescer ", porque o meu momento presente era tão satisfatório, que não pensava em esperar crescer pra fazer muitas coisas, exceto comer bolachas recheadas à vontade, e chocolates...
Sim, eu chegava a dizer que gastaria meu salário todo com chocolates... (Ainda não fiz isso... AINDA! ) ...
Alguns Natais são inesquecíveis pra mim, por toda a vida...
Um deles, o Natal em que eu e minha irmã achamos uma ponta de pinheirinho no terreno baldio, e enchemos de algodão, e essa foi nossa árvore de Natal... Nossos pais não proibiram, não falaram nada, e assim, enterramos o pinheirinho na lata de tinta, e fizemos um Natal feliz...
Naquela época, talvez até no mesmo Natal, não lembro, meu pai trouxe presente para nós quatro, dentro de uma caixa de papelão... Minha mãe tinha ganhado um tecido de uma vizinha, um jeans bem duro, e com esse tecido, mandou fazer roupas para nós três, meu irmão era bebê... Ficaram um pouco desconfortáveis, mas bem legal... A gente só tinha roupa nova no final do ano, e olhe lá...
E um outro, acho que de 1992, acho que foi no ano que meu pai faleceu, um Natal com pinheirinho, e presentes para todos, em baixo da árvore... E eu ganhei uma boneca enorme e cheirosa, que tive até o final da adolescência, ou começo da fase adulta...
Eu lembro que, na época em que ali era tudo barraco, e que só tinha um banheiro no quintal pra usar, a Vera sempre tinha uma árvore de Natal em mãos, uma dourada, uma branca, e sempre que ela montava, eu gostava de ficar lá olhando... Tão colorida, tão bonita... E tudo aquilo já me encantava tanto...
Acho que, das três décadas da minha vida, e já estou na quarta, meus primeiros anos foram os melhores... Eu sabia menos, eu exigia menos...
Minha mãe limpava a casa, e mesmo com dois cômodos e paredes de madeira, ficava tudo tão bonito, tinha brilho, tinha graça, era agradável...
Eu não sabia de nada, e não precisava de nada... Só da minha família ali, tomando café e almoçando juntos... Na mesa amarela, que abria no meio em todo o final de ano...
Ainda hoje, eu vejo minha família com esse encanto... Gostaria de vê-los todos reunidos, na casa de minha mãe, ceiando, sorrindo, contando histórias, até o dia amanhecer, até o último dizer " chega " !
As coisas infelizmente mudaram... Todos nós, irmãos e primos crescemos e nos afastamos...
Eu sempre fui muito " dada ", muito povão, muito TODA A FAMÍLIA, e com tudo o que posso ter hoje, com Papai-Noel, pinheirinho, e presentes, não ter a minha família é não ter lá tanta coisa assim... Eu sinto falta do meu povo, e domingo último almocei com eles, e ri tanto, e foi tão bom...
O tempo passou no meu RG e no meu rosto, mas meu coração ainda é daquela menina que ficava sentada numa cadeira, num canto da festa, vendo o povo dançar Beto Barbosa... Sempre AMEI ver a minha família unida, e isso acabou um pouco quando meu pai se foi, e terminou tudo quando crescemos!!!
O último melhor Natal com eles foi em 2008, por conta do amigo secreto, que era só diversão, só palhaçada!
Eu sempre falo do passado, do EXCELENTE passado que tive, mas é óbvio, como falar do futuro???
Quando eu era criança, não imaginava que quando crescesse moraria sozinha, e passaria até fome... Jamais! Então, o que o futuro me reserva??? O que eu plantar???
Pode ser que eu construa minha própria família, e pode ser que eu passe o resto de meus dias sozinha, como sou hoje... Eu não sei!
Eu nunca achei esse tal de " futuro " tão ruim como nos últimos anos... Um tanto assustador, eu diria... Coisas ruins, nunca vão deixar de acontecer, temendo ou não, " preparados " ou não... E eu nunca vou deixar de sentir tudo o que passar por mim... Por toda a eternidade!
Acho que, além de minha infância, nunca estive tão no presente, como estou hoje... Porque juro, que não espero nada de bom e/ou diferente, surpreendente, para o meu futuro... Não disse que vejo desgraças, mas também não vejo nada... É como se fosse um túnel branco... Sem nenhuma tinta disponível pra eu jogar, diga-se de passagem...
Gostaria muito de amanhecer um dia de Natal com a minha família... Batendo papo, relembrando coisas... E não me venha com papinho de " um dia você vai ter a sua família ", porque ela já existe, e mora no meu coração!!!
Roupa nova, comida, o trabalho pode comprar... Boas risadas, e companhia agradável, não há dinheiro que pague!!!
Não quero pensar no futuro, nem gostaria de vivê-lo... Sempre me causa uma má impressão, um desgosto, uma decepção... Ninguém quer repetir dores... Rsrs, e mesmo assim, elas continuam...
Eu admiro pessoas que acreditam em alguma coisa, sei lá, do futuro, da vida, do Bem... Não sei se isso se chama fé, e nem sei se tive um dia, pra poder dizer que perdi...
Eu admiro vidas que dão certo, pessoas que prosperam, que dão um grande salto na vida...
Eu admirio pessoas que continuam, mesmo quando encontram motivos para parar!
Sim, porque todo mundo encontra motivos para parar, mas tem os que insistem, e tem os que desistem...
E o importante meeeeeeeeeeesmo, não é porra nenhuma, porque não sabemos nada sobre nada... Não sabemos se estamos acertando ou errando... Se estamos perdendo tempo, ou plantando boas sementes...
" Na verdade 'nada', é uma palavra esperando tradução " - Piano Bar, Engenheiros do Hawaii
Mas, eu desejo sim, a cada ser humano da Terra, o melhor Natal de sua vida!
Porque não o melhor???
Pelo menos eu tive os melhores, pra me recordar, e quem nunca os teve?
Todo mundo tem o direito de sentir todas as sensações... Ou alguém é melhor que alguém???
O importante, é aquilo que é importante pra você... Pode ser que pra você o Natal seja uma data qualquer, ou uma data bosta, não importa... Nada importa!

Comentários

  1. Ainda tenho que ler este post, mas você me prometeu enviar seu endereço para raniere@ime.unicamp.br para que possa lhe enviar um cartão de natal. Queria postar antes do natal. =)

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  2. Rani,eu moro numa pensão,e correspondência aqui pode muito bem nunca chegar nas minhas mãos...Tem a casa da minha tia,mas não estou afim de ir lá...Vou ver!

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